O SENTIMENTO DO MUNDO
Tenho apenas duas mãs
e o sentimento do mundo
Carlos Drumond de Andrade
Não és tu —faculdade de sentir— um espaço
terminado por linhas ou superfícies
e não obstante chove sobre ti na cidade,
as gárgulas sorriem contra a tarde,
a fadista tece com fio de algodão
as suas lembranças, chove nas gretas,
os antiquários mudam de residência
e os pássaros abrigam-se nos fechamentos,
agacham-se fatigadas as folhas amarelas
e não estia, chove no molhado brando
da tua transparencia, teus labios,
e tudo aquilo que é dominio do coração
encolhe-se no lago, no lago do tempo.
© Joseba Sarrionandia